3 de novembro de 2006

Testando, testando...

Hoje estava lendo outros blogs, e vi uma coisa bem legal no de uma menina: um vídeo do Youtube. Perguntei como fazia pra colocar no meu blog também, e ela me explicou meio por cima. Tô aqui, fazendo um teste. Se não der certo, passe na bilheteria e pegue seu dinheiro de volta. Mas, se tudo estiver OK, vai ser possível assistir a um vídeo fantástico, com Chico Buarque, Edu Lobo e um outro cara estranho (e mal vestido) cantando Ciranda da Bailarina. Atente-se pra cara do Chico Buarque no final da música, com vergonha alheia pelo sujeito da barba. Enfim, espero ter tido capacidade de colocar esse vídeo no ar.

2 de novembro de 2006

Clichê: a melhor arma para falta de assunto

Andando pela Paulista, de repente aparece vindo em sua direção aquele conhecido do tempo da faculdade, que não se conversa há três anos. E agoraaa? O desespero bate, não dá mais tempo para atravessar a avenida (a não ser que queira morrer atropelado). O jeito é, em três milésimos de segundo, colocar no modo “clichê: on” e se preparar para o embate:

- Ooooô, Roberto! Quanto tempo?
- E aí, Bruno?! Tudo bem?
- Tudo perfeito. E essa força aí, como é que ta?
- Tudo ótimo, mas to procurando emprego.
- Ah, é, né?! Esse mercado de jornalismo não ta fácil pra ninguém. E o Coringão?
- Nossa, ta mal! Mas vamos virar nesse campeonato!
- Claro! Mas faz o seguinte: me liga aí pra gente marcar umas brejas.

Não importa que ele não tenha seu telefone. Esse é o momento de dar três tapinhas nas costas do sujeito, fazer aquele sinalzinho de “me liga” (vide foto) e sumir como se estivesse disputando marcha olímpica.

A conclusão é: clichês são saudáveis e essenciais para a vida em sociedade. Nos fazem parecer simpáticos e atenciosos. E, acima de tudo, minimizam o constrangimento em encontros não-programados. Afinal, como diria a sabedoria popular, “o que não mata, engorda” (vide foto novamente).

25 de outubro de 2006

Cotas, sim!

Aviso de antemão que este texto estará repleto de obviedades, clichès e parca apuração de fatos históricos. Totalmente opinativo e emocional. Mas, ainda assim, a expressão da verdade.

É sobre as cotas pra negros em universidades públicas. Há anos ouço tantas besteiras sobre o tema, contestando a justiça dessa ação afirmativa, que resolvi escrever sobre o assunto neste espaço. Não, as cotas não são injustas. Injustiça é trazer milhões de negros da África durante 300 anos, tratá-los da forma mais desumana e arbitrária possível, fazer o “favor” de libertá-los e, depois, largá-los à Deus-dará, sem o mínimo de estrutura, criando os enormes bolsões de pobreza, as favelas e os morros paupérrimos (e essa “libertação” ocorreu há pouco mais de 100 anos!).

Agora, dizem que os negros devem entrar na faculdade pelo próprio esforço. Como há 2% de negros em faculdades públicas neste País, ou se parte da premissa que os negros não têm força de vontade, ou algo está muito errado. E as frases imbecis não saem da boca do povo:

“Os negros têm preconceito contra eles mesmo”.

“Ah, quando um cara é escurinho a gente suspeita mesmo, né”.

“Tem uma amiga da tia da minha vizinha que é negra, e ela entrou na universidade por esforço próprio, após trabalhar 17 horas por dia e estudar mais cinco horas. Por que os outros negros não fazem o mesmo?”.

E a frase mais nojenta e preconceituosa: “Ué, se eles podem pôr uma camiseta escrito 100% negro, por que não posso colocar uma 100% branco?”. (Simplesmente porque isso é nazismo, pois a população branca no Brasil nunca sofreu preconceitos devido à sua cor. No caso dos negros, é uma atitude afirmativa, para mostrar que têm orgulho da cor, apesar de todo o preconceito que sofrem).

Outra coisa dita pelo povo, e essa mais inteligente, é de que não se deve ter cotas, mas investir na educação de base. Sim, é óbvio que as condições devem ser dadas no ensino fundamental. Só que não podemos falar prum negro de 17 anos: “Olha, vamos arrumar o ensino básico, mas não é pra sua geração, viu?! Daqui 20 anos teremos uma educação sensacional, e seus filhos – ou quem sabe seus netos – poderão usufruir disso”.

Esquecem que ele não pode esperar. Que essa ação deve existir já, para que seus descendentes sejam filhos de advogados, jornalistas, engenheiros. É questão de dar ao povo negro auto-estima. De colocar negros em grandes empresas. É de parar de apertá-los nas periferias, e depois reclamar que a cidade está muito violenta. O Brasil deve pensar no bem de toda a população, e não no de 20% que tem um nível educacional melhor, esquecendo da grande massa populacional.

Arrancamos sua auto-estima, sua história e seu orgulho. Eu, por exemplo, sei de quem descendo, o nome dos meus bisavôs e de quais cidades européias eles vieram. Mas a maioria dos negros não sabe nada sobre seus ascendentes, simplesmente porque eles não eram tratados como cidadãos, mas como gados. Chega! Um país justo é no qual toda a população tem acesso à educação, ao emprego e a uma vida justa. Mesmo que seja utópico, a obrigação é ao menos tentar. E parar de pôr empecilhos para o desenvolvimento social por achar que “o nível das faculdades vai cair”.

4 de outubro de 2006

"Sim, eu tenho medo"

A frase do título deste texto é da Regina “Tenho Torcicolo” Duarte, dita no programa eleitoral do então candidato à presidência (e agora governador de São Paulo) José Serra, em 2002. A sorridente atriz se dizia com medo do Lula, não se sabe bem por quê. Agora, com a licença da global, é a minha vez de dizer: eu tenho, muito, medo.

Medo do misto de ignorância, conservadorismo e preconceito dos paulistas; medo do Maluf, Campos Machado, Valdemar Costa Neto, Frank Aguiar, Collor e Clodovil, todos levados ao congresso pelos braços do povo; medo da onda anti-Lula, que beira o fascismo, qualificando-o apenas como “bêbado, ladrão e analfabeto” (assim como gostamos de adjetivar os pobres); medo por viver um dos períodos mais miseráveis em ideologias deste País.

O segundo turno se aproxima, e até lá terei que ouvir coisas parecidas como as que ouvi hoje num bar, de um “fazendeiro do Mato Grosso que acaba de voltar da Europa” (ele se apresentou assim!): “Lula é um vagabundo bebum. Assim como esse pessoal do MST, que quer terra sem trabalhar. Só mais uma coisa: por que você deu R$ 1 praquele pedinte? Essa cambada quer vida fácil; aposto que ta indo pro bar tomar cachaça”. É, vocês me assustam.

4 de setembro de 2006

Na subida do morro

Existem sambistas conhecidos por seu lirismo e delicadeza das palavras, como Cartola. Outros pela inovação, como Baden Powell e seus afrosambas. Há ainda os contestadores, sendo Zé Kéti um dos principais representantes. Mas, na categoria “malandro” – daqueles que daria medo se topasse na rua – ninguém bate Geraldo Pereira. Dono de uma malandragem até dizer chega, de origem suburbana, tipo mal-encarado, Geraldo fez os sambas mais sensacionais da primeira metade do século 20 e que, até hoje, são regravados por muita gente boa.

Na obra do Geraldo não há espaço pro amor romântico, pras belezas da cidade maravilhosa ou pro brilho da lua. Ele é objetivo, preciso e mordaz. Uma das suas músicas mais significativas é “Sem Compromisso” (gravada magistralmente por João Gilberto), em que ele descreve um ataque de ciúme que qualquer cidadão de bem já teve ao ver sua amada dançando – e dançando feliz – com outro cara:

“Você só dança com ele, diz que é sem compromisso. É bom acabar com isso, não sou nenhum pai João. Quem trouxe você fui eu, não faça papel de louca, pra não haver bate-boca dentro do salão”.

Acredito que ele queria ser romântico, só não nasceu com essa habilidade. Em “Bolinha de papel” até que ele começa direitinho:

“Só tenho medo da falseta, mas adoro a Julieta como adoro a Papai do Céu. Quero seu amor, minha santinha, mas só não quero que me faça de bolinha de papel”.

Mas aí, caso a Julieta não ceda aos seus apelos, ele esquece o romantismo e apela pruma coisa que as mulheres – e os homens também, claro – adoram:

“Tiro você do emprego, dou-lhe amor e sossego. Vou ao banco e tiro tudo pra você gastar. Posso, ó Julieta, lhe mostrar a caderneta se você duvidar”.

E ele arriscou ser romântico novamente em “Escurinha”. Mais uma vez, Geraldo dá “bons motivos” pra ser aceito:

“Escurinha, tu tens que ser minha de qualquer maneira. Te dou meu boteco, te dou meu barraco que eu tenho no morro de Mangueira”.

Sensacional!

Ele podia tirar tudo da caderneta pela mulher que ama, dar o boteco, o barraco, mas, se a mulher pisar na bola, o romantismo se evaporava. E “pisar na bola” significava simplesmente ir ao baile sem avisa-lo!, como na letra de “Acabou a sopa”:

“Essa não é a primeira vez que você me aborrece e depois, com cara de santa, me aparece pedindo perdão. Sem me pedir foi ao baile, isso não se faz. Eu vou lhe mandar embora para nunca mais”.

De todas as suas músicas, a mais representativa do “Geraldo Pereira’s way of life” é “Na Subida do Morro”. Por ter sido vendida ao Moreira da Silva, por ser um samba de breque malandríssimo, mas principalmente pela letra, que vale a pena ser colocada na íntegra:

Na subida do morro me contaram
Que você bateu na minha nega
Isso não é direitoBater numa mulher
Que não é sua
Deixou a nega quase crua
No meio da rua
A nega quase que virou presunto
Eu não gostei daquele assunto
Hoje venho resolvido
Vou lhe mandar para a cidade
De pé junto
Vou lhe tornar em um defunto
Você mesmo sabe
Que eu já fui um malandro malvado
Somente estou regenerado
Cheio de malícia
Dei trabalho à polícia
Pra cachorro
Dei até no dono do morro
Mas nunca abusei
De uma mulher
Que fosse de um amigo
Agora me zanguei consigo
Hoje venho animado
A lhe deixar todo cortado
Vou dar-lhe um castigo
Meto-lhe o aço no abdômen
E tiro fora o seu umbigo
Vocês não se afobem
Que o homem dessa vez
Não vai morrer
Se ele voltar dou pra valer
Vocês botem terra nesse sangue
Não é guerra, é brincadeira
Vou desguiando na carreira
A justa já vem
E vocês digam
Que estou me aprontando
Enquanto eu vou me desguiando
Vocês vão ao distrito
Ao delerusca se desculpando
Foi um malandro apaixonado
Que acabou se suicidando.

Um cara desse não podia ter um fim mais coerente. Segundo dizem, ele teria morrido após uma briga, em frente aos arcos da Lapa, com o lendário Madame Satã. Teria tomado um soco e, ao cair, batido a cabeça no meio-fio. No hospital, pouco antes de morrer, ele disse ao grande sambista Cyro Monteiro, que gravou suas principais músicas, que estava preparando uma outra letra pra “Escurinho”, na qual o personagem da música se regeneraria (a letra original é: “Escurinho era um escuro direitinho, que agora está com uma mania de brigão. Parece praga de madrinha ou macumba de alguma escurinha que lhe fez ingratidão”). Mas um escurinho morreu antes de regenerar o outro.

22 de maio de 2006

“No avesso da montanha”


Mudando de assunto, vamos falar de Chico Buarque. E do seu novo disco, "Carioca”. Continua no mesmo nível dos outros, com uma diferença: não há nenhuma música que seja fácil de sair cantarolando. São canções mais melódicas e letras menos fáceis. Continua o lirismo, a crítica social sem demagogia e, sua maior característica, os versos geniais. Então, como gosto de rankings, acabei de montar o indispensável Top 10 Versos Geniais do Novo Disco do Chico.

Música: Subúrbio

“No avesso da montanha é labirinto, é contra-senha, é cara a tapa”. É maravilhoso criar a imagem de que o subúrbio carioca está no “avesso da montanha”.

“É pau, é pedra, é fim de linha, é lenha, é fogo, é foda”. Este verso nem é tão genial pela letra, mas pela forma que ele canta. Qualquer outro gritaria o “é foda” bem alto, porque qualquer palavrão em música garante sucesso fácil. Mas, ao invés disso, ele atropela a palavra, que fica quase imperceptível. Mantém a expressão e a elegância ao mesmo tempo.

“Fala Maré, fala Madureira, fala Meriti, Nova Iguaçu, fala Paciência”. “Paciência” é o último dos bairros a ser citado. Mais perfeito, impossível.

Outros Sonhos

“Guris inertes no chão falavam de astronomia”. No seu sonho os meninos no chão, ao invés de estarem muito loucos de cheirar cola, olham as estrelas.

“Maconha só se comprava na tabacaria. Drogas na drogaria”. Acho que é o verso com mais significados implícitos do disco. Além de dar uma solução pro fim do tráfico, ele “afirma” que maconha não é droga.

As Atrizes

“Dançava colada em novos pares, com um pé atrás, com um pé a fim”. Genial! A letra fala das atrizes francesas que ele conheceu em Paris, quando era criança. E, mesmo sendo mulheres que “escolhiam qualquer um e lançavam olhares” (como diz em outro trecho), Chico tentou mostrar que mesmo as mulheres “fáceis” têm essa eterna dúvida de “será que devo me entregar?” (desculpe-me a frase brega). Ou seja, “ficam com um pé atrás, com um pé a fim”.

Ela faz Cinema

“Quando ela chora, não sei se é dos olhos pra fora, não sei do que ri”. As atrizes fingem que choram. Ou, como ele disse, “choram dos olhos pra fora”.

“Quando ela mente, não sei se ela deveras sente o que mente pra mim”. Vale pela citação escondida a Fernando Pessoa.

Renata Maria

“Ela, era ela, era ela no centro da tela daquela manhã. Tudo o que não era se desvaneceu”. Enquanto a “Renata” sai do mar, sua imagem é a única coisa existente aos olhos do observador. Tudo ao redor se congela. A ponto das ondas ficarem “suspensas no ar”.

“(Quieto) como algum salva-vidas no banco dos réus”. Esse eu não entendi, mas achei genial!

20 de abril de 2006

Ela faz cinema (ou “quase não ouvi e adorei”)

Voltando hoje pra casa pela Marginal, troquei da Rádio USP pra Cultura AM (as duas únicas estações que ouço quando não está passando futebol – excetuando as de notícia, claro). E, devido a minha habitual falta de sorte, estava tocando o finzinho de “Ela faz cinema”, música do novo disco do Chico Buarque, que eu nunca tinha ouvido. Fechei as janelas do carro em 7,3 milésimos de segundo pra escutar a novidade. E só peguei o refrão final: “Ela faz cinema, ela faaaaaz cinema. Larararaaaaa, ela faz cinemaaaaa” (ta, esse trecho não foi muito elucidativo). Na verdade, ele cantou algumas outras palavras também. Mas só me lembro desse trecho. A música é meio um jazz suave, ou algo do gênero. Só sei que era ótima e que a melodia não me sai da cabeça. Se transformou, instantaneamente, na minha música preferida do Chico. E serviu para inverter aquela famosa frase: “Não ouvi e não gostei”.
(Quase) Não ouvi. E gostei muito.

24 de março de 2006

LETRA e música

Alguns - principalmente músicos - defendem que a voz é só mais um instrumento. Mas não, não é. Não podemos comparar a voz numa música como se fosse um pandeiro. Se tirar o pandeiro de uma música, fica uma música sem pandeiro. Se tirar a voz, a música se torna outra coisa. A importância da voz – e, conseqüentemente, da letra-, é a de teatralizar (com perdão do neologismo) a música, dar vida, personagens. Serve para contar uma história em cima de uma base musical.

Ouça Lamento, do Pixinguinha, somente na versão instrumental. É uma maravilha, claro. Mas com a letra de Vinícius de Moraes por cima, posta anos depois (“Morena, tem pena/ mas ouça o meu lamento/ preciso em vão te esquecer...”), a música passa a ter vida. Deixa de se concentrar nela mesma para falar de algo que está fora de si.

Paulo Vanzolini, autor de Ronda, Volta por Cima, Praça Clóvis e de outras letras sensacionais, mal sabia a diferença entre um ré sustenido e um dó. Mas suas letras são essenciais. Agora, pior: imagine se Chico Buarque fizesse somente música instrumental ou achasse que a letra fosse apenas um detalhe...

Há exceções em que a voz é realmente um instrumento. Um dos brasileiros notórios nisso é o (pentelho, mas bom) Ed Motta. Quando ele começa a cantar os “paraê bum pom yeahhhh din din dum” (é mais ou menos isso), claro que ali a voz tem essa única função. Ele já deu entrevistas dizendo que não vê tanto importância na letra, que essa é uma mania brasileira. Felizmente (sobre ser uma mania nacional), ele tem razão.

8 de março de 2006

De mim...

Não quero mais ler Álvaro de Campos (aquele amigo do Fernando Pessoa). Ele se parece muito comigo. E como disse o Paulo Francis sobre seus imitadores: "De mim, basta-me eu".

23 de fevereiro de 2006

Silêncio, João Gilberto vai cantar

Ainda no tempo de faculdade, entrevistei o escritor Ruy Castro (autor de três livros sobre a bossa nova) para falar sobre João Gilberto. Lá pelo meio da entrevista, perguntei:

- Ruy, como é que é aquela história que, quando você o entrevistou, ele de repente “sumia” do telefone e voltava 20 minutos depois, como se nada tivesse acontecido?

- - (com voz brava) Pô, Bruno. Não é legal irmos por esse lado folclórico do João. Todos se atentam somente a isso e às suas “esquisitices”, mas isso é o que menos importa.

E não importa mesmo. Há quase um consenso de rotulá-lo como chato, esquisito ou metido.E acabar o assunto por aí. Na verdade, a única forma correta de encerrar a questão sobre o João com uma palavra de efeito é: “gênio”.

João Gilberto nunca ligou para mídia. Nunca abriu concessões à sua arte. Deu somente uma entrevista à imprensa (quando voltou dos EUA, nos anos 1970; com exceção, claro, quando algum repórter conseguiu na marra uma palavrinha dele). Revolucionou o modo do brasileiro cantar e tocar violão. Matou de vez a breguice musical que havia até o começo dos anos 1960. Passou anos praticamente grudado ao violão, desesperado, para encontrar aquela batida que procurava. Sempre quis tocar, só tocar.

Como disse o Ruy Castro na entrevista, “qualquer música babaca estrangeiro vem ao Brasil, pede 500 toalhas no camarim e todo mundo acha normal. João só quer o direito de poder tocar à sua maneira”.

Se ele pede para desligar o ar-condicionado nos shows, é porque o aparelho pode desafinar as cordas do violão. Se se incomoda com o barulho da platéia, é porque canta baixinho, e quer ser ouvido. Não são pedidos à toa. Ele não é uma mercadoria para o público “exigir seu direito” de falar alto no show.

Claro, ninguém é obrigado a gostar dele. Mas é difícil entender como não se pode achar incrível a sua gravação de “Sem Compromisso”, que tô ouvindo agora (“Você só dança com ele, diz que é sem compromisso...”). É para se falar a si mesmo: “Silêncio, João Gilberto vai cantar”.

20 de janeiro de 2006

Pausa Musical 2

Ricardinho no Corinthians. Traidor e mau-caráter. Uma Libertadores e a gente esquece .

18 de janeiro de 2006

Pausa musical 1

A atriz Luana Piovani escreveu em seu blog que havia lido Cem Anos de Solidão, do Gabriel Garcia Marquez. E afirmou: "Acabei de ler Cem Anos de Solidão, meu companheiro dos últimos seis meses", toda orgulhosa. Hmm, pelas minhas contas, vamos lá! O livro tem 380 páginas. Então, vai um, sobe dois.... hmmmm.... leu, em média, duas páginas por dia. Por isso que ela não vira evangélica (pegaram? pegaram?).

13 de janeiro de 2006

Horóscopo?

Sempre citam as metáforas escondidas por trás das letras do Chico Buarque. “Maninha”, “Apesar de Você”, “Cálice”, “Acorda, Amor” (essa é um pouco mais direta), “Roda Viva”, para ficar nas clássicas que se referem nas entrelinhas à ditadura brasileira.

Mas li uma teoria que nunca havia percebido. Que “A Rita” também se refere aos militares.

O sujeito que defende essa tese afirma que os versos são claros:

“A Rita levou meu sorriso
No sorriso dela
Meu assunto
Levou junto com ela
E o que me é de direito
Arrancou-me do peito
E tem mais”

Ele ainda destaca que essa referência fica mais clara nos últimos versos:

"Levou os meus planos
Meus pobres enganos
Os meus vinte anos
O meu coração
E além de tudo
Me deixou mudo
Um violão"

(Deixar mudo o violão: a censura)

Ele também escreve isso aí abaixo, que sequer ouvindo essa música por 20 anos perceberia sozinho:

"’Levou seu re(tr)ato, seu (tr)apo, seu (pr)ato’ que concorda com (tr)ai. O som que emite a metralhadora ‘trrrrrrrr’”.

Bem, na verdade faz todo o sentido e faz sentido nenhum. O que me parece é que as músicas do Chico são como horóscopo de jornal. É possível dar a interpretação que quiser. E todas estarão certas.

7 de janeiro de 2006

Agora Falando Sério X Paratodos

A música sempre me deu alento pra maioria dos meus momentos importantes. Terminei o namoro? Não tem problema, afinal “o amor não tem pressa, ele pode esperar”. E já ficava mais calmo. Muitas brigas antes de terminar? Era só ouvir “Prometo te querer até o amor cair doente, doente. Prefiro então partir, a tempo de poder, a gente se desvencilhar da gente” e tudo se amenizava. Me achava todo errado? Então “Quando eu nasci veio um anjo safado, o chato do querubim” e ficava tudo uma beleza.

Pois bem. Há uns dois anos ouvi uma música do Chico Buarque, o maior fornecedor de alentos que conheço, chamada Agora Falando Sério (1969). Nela, Chico renega as próprias letras que escrevera. E afirma, categoricamente, que as letras de músicas são ‘uma mentira’ e não afastam mal algum. Ó a música aí embaixo (com notinhas entre parênteses):

Agora falando sério (como se tudo que havia escrito antes fosse brincadeira ou 'sacanagem')
Eu queria não cantar
A cantiga bonita
Que se acredita
Que o mal espanta
Dou um chute no lirismo
Um pega no cachorro
E um tiro no sabiá (em referência a Sabiá, a música que ele fez com Tom Jobim)
Dou um fora no violino
Faço a mala e corroPra não ver a banda passar (A Banda!)

Agora falando sério
Eu queria não mentir (humpf!)
Não queria enganar
Driblar, iludirTanto desencanto
E você que está me ouvindo
Quer saber o que está havendo
Com as flores do meu quintal?
O amor-perfeito, traindo
A sempre-viva, morrendo
E a rosa, cheirando mal
Agora falando sério
Preferia não falar
Nada que distraísse
O sono difícil
Como acalanto
Eu quero fazer silêncio
Um silêncio tão doente
Do vizinho reclamar
E chamar polícia e médico
E o síndico do meu prédio
Pedindo pra eu cantar
Agora falando sério
Eu queria não cantar
Falando sério
Agora falando sério
Preferia não falar
Falando sério

Primeiro fiquei triste. Pensando... “Porra, ele faz pouco caso do que ele próprio escreveu, por que eu vou gostar?”. Depois quis mais que se f#¨%#@ e continuei tomando posse das letras buarquianas pra mim (como quase todo mundo que o ouve, acredito).


Dois anos depois, enfim prestei atenção numa música e tive minha ‘vingança’. Fornecida pelo próprio compositor. Precisou de 24 anos, mas ele fez o favor de se contradizer (ou de se corrigir) ao escrever Paratodos (do disco homônimo, 1993).

Lá ele exalta a todos que usem a música contra todos os males. 'Creia, ilustre, cavalheiro. Contra fel, moléstia, crime. Use Dorival Caymmi, vá de Jackson do Pandeiro'.

Pra aumentar minha satisfação, ele continua com os imperativos: 'Fume Ari, cheire Vinícius,beba Nelson Cavaquinho'.

O arrependimento inconsciente (vindo dele, pode até ter sido consciente) deve ter sido grande, porque a exaltação à importância da música segue: 'Para um coração mesquinho contra a solidão agreste, Luiz Gonzaga é tiro certo, Pixinguinha é inconteste'.

Pronto! Agora tudo se ajeitou. Tudo bem que, em 1969, devia ser insuportável tocar pela enésima vez A Banda e manter aquela imagem de bom-moço. Foi um ato de rebeldia. Mas, agora falando sério, sou mais o Chico paratodos (por que eu sempre termino meus textos com um trocadilho ridículo?).