24 de dezembro de 2011

"Felicidade é brinquedo que não tem"

No fim dos anos 1920, o baiano Assis Valente decidiu mudar-se para o Rio. Talentoso e vaidoso, na cidade encontrou o que sempre quis: reconhecimento público, após compor alguns sambas entoados pelas cantoras mais importantes da cidade. Só que trazia em si um sentimento de solidão sem fim. E sentiu esta desesperança mais intensamente na noite de Natal de 1932. Sozinho no quarto, longe da família, viu uma imagem de uma menina com os sapatinhos sobre a cama, esperando o presente de Papai Noel. Foi o suficiente para nascer uma das músicas mais amarguradas de seu repertório - e inaugurar o gênero natalino na música brasileira. “Boas Festas é o melhor dos meus sambas”, diria anos mais tarde.

20 de dezembro de 2011

Apesar deles, o Brasil cantou

O verão no Rio estava quentíssimo. Mas, estranhamente, a previsão do tempo do Jornal do Brasil do dia 14 de dezembro de 1968 indicava: “Tempo negro. Temperatura sufocante. O ar está irrespirável. O país está sendo varrido por fortes ventos”.

O Ato Institucional nº 5 havia entrado em vigor no dia anterior, o que, na prática, fechava o Congresso, cassava mandatos políticos e suspendia garantias constitucionais. Começava a se desenhar a faceta mais perversa e totalitária do regime militar. Quase que instantaneamente os órgãos de imprensa foram invadidos por censores. Vários jornais, que até então se sentiam com alguma liberdade para noticiar, tiveram as edições recolhidas.

Não raro, os editores eram levados de camburão. Políticos, artistas e estudantes eram presos ou fugiam para o exílio. O regime, definitivamente, havia endurecido. Sem sombra de ternura.

Nas reuniões governamentais que decidiram pela medida, a voz corrente era que, se tivessem que implantar uma ditadura de fato para conter a “contra-revolução”, que assim se fizesse. O presidente Costa e Silva finalizou: “Eu confesso que é com verdadeira violência aos meus princípios e ideias que adoto uma medida como esta”.

O militar acreditava que o AI-5 duraria “de oito a nove meses”. Durou dez anos. Tempo suficiente para censurar 500 filmes, 450 peças de teatro, 200 letras de música e o mesmo número de livros. Mesmo com a proibição, porém, houve canções que entraram definitivamente no gosto popular e outras que escaparam dos olhos pouco inteligentes dos censores. Só mais tarde descobririam que calar melodias seria a mais inútil das missões. E o País cantou.


Chico Buarque prometia que, apesar deles, amanhã seria outro dia.



Paulo César Pinheiro, em parceria com Maurício Tapajós, desafiava: Você me corta um verso / Eu escrevo outro.


Belchior e Toquinho foram acusados de exaltar a França em detrimento ao Brasil.


Odair José desagradou o moral vigente.


As famílias cearenses consideraram Genival Lacerda indecente.


E quando a situação começou a melhorar, João Bosco e Aldir Blanc lembraram o quão choraram Marias e Clarices.