27 de julho de 2012

"Corpo fechado" abriu os caminhos do rap nacional

A partir de meados da década de 1980, o vão livre da estação São Bento do Metrô, em São Paulo, passou a ser ponto de encontro dos aficionados pelo movimento hip-hop, já forte nos Estados Unidos, mas ainda engatinhando no Brasil. Dois fatores foram decisivos para a escolha do lugar: localização central e piso propício para dançar break, enquanto os MCs lançavam as rimas de improviso. Foram integrantes dessa turma que produziriam o elepê inicial do rap brasileiro: Hip-Hop Cultura de Rua, que ganharia as lojas de disco em 1988.

Quatro grupos fizeram parte das 14 faixas do vinil, lançado pela Eldorado: Código 13, MC Jack, O Credo e, conhecidos até os dias de hoje, Thaíde e DJ Hum. Hip-Hop Cultura de Rua trazia, inclusive, um dos clássicos do rap tupiniquim, Corpo Fechado (parceria de Thaíde com Marcos Telésforo), em que Thaíde versava com voz brava: Me atire uma pedra / Que eu te atiro uma granada / Se tocar em minha face / Sua vida está selada.


Com boa receptividade, o disco (hoje considerado raríssimo) abriu as portas para o lançamento de outros rappers, como Ndee Naldinho, Consciência Humana, DMN e, fora de São Paulo, Câmbio Negro, de Brasília, e Faces do Subúrbio, do Recife. Logo também surgiria o primeiro elepê dos Racionais MCs, o mais cultuado grupo de rap do País. Fatos que mudaram a produção cultural das periferias das grandes cidades, principalmente de São Paulo. “Se no Rio é o samba, o rap é a grande música popular paulistana”, diz Mano Brown, líder dos Racionais.