“Frank
Sinatra está resfriado”. Este é o título de uma das mais
conhecidas reportagens da história do jornalismo mundial, escrita
pelo repórter norte-americano Gay Talese em 1966. A manchete também
poderia descrever a estadia do cantor em solo brasileiro em 1980.
Durante cinco dias no Rio de Janeiro, The
Voice
pegou um resfriado forte, arrumou confusão com a imprensa e fez um
dos shows mais concorridos da história do Brasil.
O
empresário Roberto Medina foi o responsável por trazer a lenda
norte-americana ao País – o mesmo que produziria a primeira edição
do Rock
in Rio.
O sonho de trazer Sinatra era uma questão de honra para a família
desde que o pai, o também empresário Abraham Medina, tentou
contratá-lo em 1955 por 300 mil dólares, mas o negócio acabou não
sendo concretizada.
A chegada de Sinatra à
Cidade Maravilhosa gerou uma corrida de repórteres para conseguir
uma palavrinha do artista. Cerca de 200 profissionais da imprensa se
empurraram (e o empurraram) ao se aproximar do Rio Palace Hotel. A
entrevista coletiva foi suspensa. O assessor de imprensa gritou aos
jornalistas: “Ele não precisa vir ao Brasil para ser tratado como
animal!”. A relação a cada dia ficava mais tensa. Mais tarde, em
uma outra coletiva de imprensa, ele fez uma congelante cara de
desprezo a uma repórter argentina que lhe fez a pueril pergunta:
“Você se acha o único?”. No quarto do hotel, Sinatra chegou a
dizer à mulher que queria ir embora, mas foi convencido a
permanecer. A pouca amistosa relação entre ele e a imprensa até
gerou uma carta de repúdio de um grupo de jornalistas, enviada ao
consulado dos Estados Unidos.
A
apresentação, porém, foi impecável. Aos 64 anos, ele subiu ao
palco na noite chuvosa de 26
de janeiro de 1980
e se impressionou ao dar de cara com o maior público de sua
carreira: 175 mil ansiosas pessoas esperavam para ouvir sua Voz.
“Quando Sinatra adentrou o palco, olhou para cima e disse: ‘Meu
Deus’. Na arquibancada, eu também”, relembra o jornalista Ruy
Castro. Não só de sua carreira. Aquela noite entrou para o Guinnes
Book como o maior público de uma apresentação musical de todos os
tempos. Durante 75 minutos os espectadores ouviram canções como
I've
Got the World on a String, The Lady Is a Tramp e I've Got You Under
My Skin. O
show foi transmitido para toda a América do Sul, com exceção da
Colômbia, pela Globo.
Não houve outro tema
no Rio. A repercussão da apresentação até inspirou o poeta Carlos
Drummod de Andrade a escrever uma crônica sobre um sujeito que não
suporta mais ouvir sobre o norte-americano e quer comprar por 20 mil
cruzeiros a sua não-entrada para o show. Após um bate-boca com o
rapaz da bilheteria, que não entende a proposta insólita, o sujeito
conclui: “Quero o meu sossego, quero ouvir as fitas de minha
escolha, e atualmente nesta cidade não há alternativa. Ou Sinatra
ou nada. Então, quero Cr$ 20 mil de nada”.