30 de novembro de 2011

Insatisfacão de Ari Barroso valia ingresso


Ari Barroso foi locutor esportivo no início dos anos 1930, mas para ele imparcialidade era conversa pra boi dormir. Ari não tinha pudor algum de mostrar sua preferência pelo Flamengo. Se houvesse uma falta perigosa contra o time da Gávea, soltava ao microfone: “Falta perigosíssima contra o Flamengo! Não vou olhar!”. Mas se o gol era de sua equipe do coração, tocava alegremente uma gaitinha, para a irritação dos torcedores adversários.
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Certa vez, anos mais tarde, o Flamengo ia tomando uma acachapante goleada de 6 a 0 do Bangu, no Maracanã. Faltava pouco para a acabar a partida quando um cidadão quis comprar uma entrada para o jogo. O rapaz do guichê explicou que a partida estava no fim. "Eu sei", respondeu". "Só quero ver a cara do Ari Barroso".

23 de novembro de 2011

Café paulista, leite mineiro

A República Velha se caracterizou pela Política do Café com Leite. Conchavos políticos garantiam que os ricos cafeicultores paulistas e os poderosos produtores de leite de Minas Gerais se revezassem no posto de presidente da República. Com apenas duas exceções – o gaúcho Hermes da Fonseca e o paraibano Epitácio Pessoa –, foi o que aconteceu de 1898 a 1930.

Em 1926, ao compor Café com Leite, Freire Júnior usou a culinária para explicar a prática. A letra dizia que o “mestre cuca” – ou seja, o presidente do momento – convocava os “cozinheiros”, que seriam os representantes dos estados, para fazer uma “boia bem escolhida”.

O resultado era sempre o mesmo: Café paulista / Leite mineiro / Nacionalista / Bem brasileiro.

Eis a letra:
Freire Júnior

Nosso Mestre Cuca movimentou
O Brasil inteiro,
Cada um estado pra cá mandou
O seu cozinheiro.
Mexeu-se a panela, fez-se a comida
Com perfeição.
Assim foi a bóia, bem escolhida
Com precaução

Café paulista,
Leite mineiro,
Nacionalista
Bem brasileiro.

Preto com branco,
Café com leite,
Cor democrata.
É preto com branco,
Meu bem, aceite.
Cor da mulata.
O leite é bem grosso, café é forte
Aguenta a mão.
As novas comidas têm que dar sorte
Na situação

Café paulista
Leite mineiro
Nacionalista
Bem brasileiro.

9 de novembro de 2011

"Teu mal é comentar o passado..."

Um amor conturbado e sambas inesquecíveis. Dalva de Oliveira e Herivelto Martins eram casados, mas viviam em pé de guerra. Quando se separaram oficialmente, em 1949, as discussões passaram a ser públicas. Herivelto ia a jornais acusar Dalva de promover orgias em casa, enquanto a mulher dizia o quanto Herivelto a fazia infeliz. A coisa ficou quente mesmo quando a peleja se tornou músicas. E que músicas.

A briga pública começou quando Dalva cantou Errei, Sim, encomendada a Ataulfo Alves especialmente para provocar o ex-marido: Errei, sim / Manchei teu nome / Mas foste tu o culpado / Deixava-me em casa / Me trocando pela orgia / Faltando sempre / Com a tua companhia.


Em resposta, Herivelto compôs Cabelos Brancos: Não falem desta mulher perto de mim (…) Por ela vivo aos trancos e barrancos / Respeitem ao menos os meus cabelos brancos. A provocação mútua não pararia, para deleite dos ouvintes-fãs-fofoqueiros.

Ainda foram criadas, para Dalva cantar, Fim de Comédia, de Ataulfo Alves, e Que Será, de Rossini Pinto. Herivelto respondeu com mais dois sambas: Caminhemos (para mim, a mais bonita de todas) e Segredo. Ironicamente, neste último, exige mais discrição por parte da ex-amada: Teu mal é comentar o passado / Ninguém precisa saber o que houve entre nós dois