10 de agosto de 2011

Um amor em 140 caracteres

Um amor evitável, mas irresistível. É assim que soa Tipo Um Baião, a melhor música (ao lado de Sinhá) do novo disco de Chico Buarque. Não tenho pretensão de destrinchar os critérios técnicos do baião-canção. Só dar pitacos sobre os aspectos emocionais. Que é o que importa.

Sabe as músicas que na primeira audição soam familiares, como se você já as conhecessem? Tipo Um Baião é um desses casos raros. A melodia, arranjo e harmonia já nasceram clássicos. Tudo isso com uma letra cheia de signos.

A música é uma confissão do amor entre um sujeito mais velho e uma menina cheia de vitalidade que surge quando não há muitos motivos para mais uma “história de amor a essa hora”. É mais provável que seja inspirado em Thais Gulin, a namorada 36 anos mais jovem do compositor. Mas, se não for, pouco importa.

Para começar, acho graça quando Chico arrisca falar as “gírias da juventude”. Ele já havia feito isso no último disco, ao dizer em Leve: Sei que seu caminho será tudo de bom / Mas não me leve. Agora, manda o tal Tipo me adora mesmo assim, meio mané, por fora. E lamenta-se que a moça só surgiu somente agora, ora para “enfeitar" a sua vida ora para “embaralhar” os seus dias.

Só quem amou entende o drama de ver o vulto da amada sumir entre mil abadás na ladeira num dia de carnaval. Só quem amou sabe como é irresistível estar ao lado de alguém que faz pouco caso das coisas que para você são importantes. A tal da moça, afinal, ignora o baião. Só quem amou acredita mais uma vez que desta vez será uma festa sem fim.

Mas o êxtase da canção é quando surge uma das melhores analogias da história da música brasileira sobre as emoções de amar. Comparar o sentimento com o movimento do acordeão é monumental: Meu coração / Que você sem pensar / Ora brinca de inflar / Ora esmaga / Igual que nem / Fole de acordeão / Tipo assim num baião / Do Gonzaga. É um tratado sobre o amor em exatos 140 caracteres. O Chico, tipo sem querer, mostrou-se antenado com as novidades dos tempos modernos. Assim como goleiro bom tem de ter sorte, gênios também produzem genialidade sem querer.