30 de junho de 2009

Garrincha amargura o País durante o carnaval

Carnaval de 1980. A Mangueira desfilou sob o enredo Coisas Nossas. Em um carro alegórico, a eterna alegria do povo, Mané Garrincha, era o destaque principal. Mas, debilitado pela sequência de internações por alcoolismo e dopado pelos medicamentos, o anjo das pernas tortas estava irreconhecível.
Não conseguiu sequer desfilar em pé. Sem esboçar expressões faciais, apenas fazia acenos chochos para um público perplexo. Os 90 minutos de desfile – o mesmo tempo de uma partida de futebol – entrou para história como um espetáculo deprimente do eterno camisa 7. Ao fim, sem perceber o que tinha acontecido, apenas perguntou: “E aí, o pessoal gostou?”.

25 de junho de 2009

O homem dos 11 hinos

Lamartine Babo entrou na história da música brasileira pelas marchinhas. Mas também tem lugar de destaque por ter criado o hino de 11 times do Rio: Flamengo, Fluminense, Botafogo, Vasco, América, Bangu, São Cristóvão, Olaria, Bonsucesso, Madureira e do extinto Canto do Rio. Todos foram compostos em 1949, após ter sido desafiado pelo dono de uma gravadora a fazer os hinos para os principais clubes cariocas. Há versos inusitados, como o do Bangu (Em Bangu se o clube vence há na certa um feriado / Comércio fechado, a torcida reunida até parece a do Fla-Flu). O hino do Botafogo é o único que aparece a palavra perder (Não pode perder, perder pra ninguém). No do Canto do Rio, o futebol fica em segundo plano: Aquela morena / Do Canto do Rio / Que torce e faz cena / E causa arrepio / Queimada da praia… Propositalmente, o último hino composto foi o do América, clube de coração de Lamartine. E é considerado o mais bonito do Brasil: Hei de torcer, torcer, torcer / Hei de torcer até morrer, morrer, morrer / Pois a torcida americana é toda assim / A começar por mim

16 de junho de 2009

Greve de bondes inspira o gremista Lupicínio

Em 1953, uma greve de bondes paralisou Porto Alegre. Operários faltaram ao trabalho, casais deixaram de se ver e torcedores não puderam acompanhar as equipes no estádio. Entre eles, um gremista chamado Lupicínio Rodrigues. Desconsolado, sentou-se à mesa de um bar, sacou a caneta e lá mesmo compôs o que viria a ser um dos mais emblemáticos hinos de time de futebol: Até a pé nós iremos / Para o que der e vier / Mas o certo é que nós estaremos / Com o Grêmio onde o Grêmio estiver

9 de junho de 2009

Música e futebol

Toda a semana, colocarei uma história sobre músicas que falam de futebol. Nada melhor que começar com Wilson Batista, um sambista "levemente" apaixonado pelo Flamengo.

O sambista Wilson Batista era fanático pelo Flamengo. Num certo domingo, foi assistir a uma partida entre o time do coração e o Botafogo, no estádio de General Severiano. O Flamengo foi derrotado. Wilson se revoltou, saiu xingando todo mundo e até se recusou a pagar a passagem do bonde. O amigo Antônio Almeida tentou acalmá-lo, mas recebeu uma resposta de bate-pronto: “Pô, eu tiro o domingo para descansar e vejo meu time perder?”.

Com o mote, ali mesmo compuseram E o Juiz Apitou: Eu tiro o domingo para descansar / Mas não descansei / Que louco fui eu / Regressei do futebol / Todo queimado de sol / O Flamengo perdeu pro Botafogo / Amanhã vou trabalhar / Meu patrão é vascaíno e de mim vai zombar.

Wilson também compôs, em parceria com Jorge de Castro, Samba Rubro-Negro. Era uma exaltação aos jogadores da época: O mais querido tem Rubens, Dequinha e Pavão / Eu já rezei pra são Jorge pro Mengo ser campeão. Nos anos 1980, João Nogueira atualizou os craques: O mais querido tem Zico, Adílio e Adão… Recentemente, foi a vez de Diogo Nogueira, com alguma boa vontade na rima (e nos “craques”): O mais querido tem Souza, Obina e Juan / Eu já rezei pra são Jorge pro Mengo ser campeão…

Bonde São Januário

Como já contado neste blog, o malandro passou a fazer sambas de exaltação ao trabalho na década de 1930. Uma forma de agradar ao governo de Getúlio Vargas. Como é o caso de Bonde São Januário: Quem trabalha é que tem razão / Eu digo e não tenho medo de errar / O Bonde São Januário / Leva mais um operário / Sou eu que vou trabalhar...

Dizem, porém, que nas rodas informais da Lapa ele cantava uma outra versão: O bonde São Januário / Leva um portuga otário / Pra ver o Vasco apanhar.

Exigência a Nássara

Wilson produziu o disco Polêmica, uma compilação dos sambas compostos a partir da briga com Noel Rosa. Fez uma única exigência a Nássara, que ilustraria a capa. "Me desenhe com a camisa do Flamengo".

2 de junho de 2009

Dinheiro que é bom...

Vida de sambista não é fácil até hoje. Que dirá nos anos 1960. Cartola já havia se consagrado como fundador da Mangueira e um dos mais importantes compositores da escola. Era respeitado por gente como Noel Rosa, Vinicius de Moraes, Tom Jobim e Villa-Lobos. Mas toda essa credibilidade não se revertia em conforto na vida econômica. A foto ao lado mostra Cartola, já perto dos 60 anos, trabalhando como contínuo no Ministério da Indústria e Comércio. A principal função de um dos mais extraordinários nomes da música brasileira: servir cafezinho.

Cartola estreou a bordo de um navio. Sem pagamento.

E o artista também não viu a cor do dinheiro em sua estreia fonográfica, 30 anos antes. Como parte da Política de Boa-Vizinhança norte-americana, o inglês radicado nos Estados Unidos Leopold Stokowski atracou o seu navio no Rio de Janeiro em 1940. A missão: registrar a mais legítima música brasileira.

Para tal, pediu ao maestro Villa-Lobos que reunisse artista de samba, batucada, marchas de rancho, macumba e embolada.

.E assim fez Villa-Lobos. A gravação foi feita a bordo do próprio navio. E até o capitão foi espiar. Não era para menos: durante oito horas consecutivas passaram pelos microfones Donga, Pixinguinha, Dona Neuma, Zé da Zilda, Jararaca e Ratinho, João da Baiana. Além de Cartola, que mandou Quem me Vê Sorrindo: Quem me vê sorrindo / Pensa que estou alegre / O meu sorriso é por consolação / Porque sei conter para ninguém ver / O pranto do meu coração...

Estavam prontos os dois álbuns de Native Brazilian Music. O pagamento dos artistas? Estusiasmados cumprimentos... Muitos sequer ouviram a gravação. O disco nunca foi lançado no Brasil.