25 de outubro de 2006

Cotas, sim!

Aviso de antemão que este texto estará repleto de obviedades, clichès e parca apuração de fatos históricos. Totalmente opinativo e emocional. Mas, ainda assim, a expressão da verdade.

É sobre as cotas pra negros em universidades públicas. Há anos ouço tantas besteiras sobre o tema, contestando a justiça dessa ação afirmativa, que resolvi escrever sobre o assunto neste espaço. Não, as cotas não são injustas. Injustiça é trazer milhões de negros da África durante 300 anos, tratá-los da forma mais desumana e arbitrária possível, fazer o “favor” de libertá-los e, depois, largá-los à Deus-dará, sem o mínimo de estrutura, criando os enormes bolsões de pobreza, as favelas e os morros paupérrimos (e essa “libertação” ocorreu há pouco mais de 100 anos!).

Agora, dizem que os negros devem entrar na faculdade pelo próprio esforço. Como há 2% de negros em faculdades públicas neste País, ou se parte da premissa que os negros não têm força de vontade, ou algo está muito errado. E as frases imbecis não saem da boca do povo:

“Os negros têm preconceito contra eles mesmo”.

“Ah, quando um cara é escurinho a gente suspeita mesmo, né”.

“Tem uma amiga da tia da minha vizinha que é negra, e ela entrou na universidade por esforço próprio, após trabalhar 17 horas por dia e estudar mais cinco horas. Por que os outros negros não fazem o mesmo?”.

E a frase mais nojenta e preconceituosa: “Ué, se eles podem pôr uma camiseta escrito 100% negro, por que não posso colocar uma 100% branco?”. (Simplesmente porque isso é nazismo, pois a população branca no Brasil nunca sofreu preconceitos devido à sua cor. No caso dos negros, é uma atitude afirmativa, para mostrar que têm orgulho da cor, apesar de todo o preconceito que sofrem).

Outra coisa dita pelo povo, e essa mais inteligente, é de que não se deve ter cotas, mas investir na educação de base. Sim, é óbvio que as condições devem ser dadas no ensino fundamental. Só que não podemos falar prum negro de 17 anos: “Olha, vamos arrumar o ensino básico, mas não é pra sua geração, viu?! Daqui 20 anos teremos uma educação sensacional, e seus filhos – ou quem sabe seus netos – poderão usufruir disso”.

Esquecem que ele não pode esperar. Que essa ação deve existir já, para que seus descendentes sejam filhos de advogados, jornalistas, engenheiros. É questão de dar ao povo negro auto-estima. De colocar negros em grandes empresas. É de parar de apertá-los nas periferias, e depois reclamar que a cidade está muito violenta. O Brasil deve pensar no bem de toda a população, e não no de 20% que tem um nível educacional melhor, esquecendo da grande massa populacional.

Arrancamos sua auto-estima, sua história e seu orgulho. Eu, por exemplo, sei de quem descendo, o nome dos meus bisavôs e de quais cidades européias eles vieram. Mas a maioria dos negros não sabe nada sobre seus ascendentes, simplesmente porque eles não eram tratados como cidadãos, mas como gados. Chega! Um país justo é no qual toda a população tem acesso à educação, ao emprego e a uma vida justa. Mesmo que seja utópico, a obrigação é ao menos tentar. E parar de pôr empecilhos para o desenvolvimento social por achar que “o nível das faculdades vai cair”.

4 de outubro de 2006

"Sim, eu tenho medo"

A frase do título deste texto é da Regina “Tenho Torcicolo” Duarte, dita no programa eleitoral do então candidato à presidência (e agora governador de São Paulo) José Serra, em 2002. A sorridente atriz se dizia com medo do Lula, não se sabe bem por quê. Agora, com a licença da global, é a minha vez de dizer: eu tenho, muito, medo.

Medo do misto de ignorância, conservadorismo e preconceito dos paulistas; medo do Maluf, Campos Machado, Valdemar Costa Neto, Frank Aguiar, Collor e Clodovil, todos levados ao congresso pelos braços do povo; medo da onda anti-Lula, que beira o fascismo, qualificando-o apenas como “bêbado, ladrão e analfabeto” (assim como gostamos de adjetivar os pobres); medo por viver um dos períodos mais miseráveis em ideologias deste País.

O segundo turno se aproxima, e até lá terei que ouvir coisas parecidas como as que ouvi hoje num bar, de um “fazendeiro do Mato Grosso que acaba de voltar da Europa” (ele se apresentou assim!): “Lula é um vagabundo bebum. Assim como esse pessoal do MST, que quer terra sem trabalhar. Só mais uma coisa: por que você deu R$ 1 praquele pedinte? Essa cambada quer vida fácil; aposto que ta indo pro bar tomar cachaça”. É, vocês me assustam.