24 de março de 2006

LETRA e música

Alguns - principalmente músicos - defendem que a voz é só mais um instrumento. Mas não, não é. Não podemos comparar a voz numa música como se fosse um pandeiro. Se tirar o pandeiro de uma música, fica uma música sem pandeiro. Se tirar a voz, a música se torna outra coisa. A importância da voz – e, conseqüentemente, da letra-, é a de teatralizar (com perdão do neologismo) a música, dar vida, personagens. Serve para contar uma história em cima de uma base musical.

Ouça Lamento, do Pixinguinha, somente na versão instrumental. É uma maravilha, claro. Mas com a letra de Vinícius de Moraes por cima, posta anos depois (“Morena, tem pena/ mas ouça o meu lamento/ preciso em vão te esquecer...”), a música passa a ter vida. Deixa de se concentrar nela mesma para falar de algo que está fora de si.

Paulo Vanzolini, autor de Ronda, Volta por Cima, Praça Clóvis e de outras letras sensacionais, mal sabia a diferença entre um ré sustenido e um dó. Mas suas letras são essenciais. Agora, pior: imagine se Chico Buarque fizesse somente música instrumental ou achasse que a letra fosse apenas um detalhe...

Há exceções em que a voz é realmente um instrumento. Um dos brasileiros notórios nisso é o (pentelho, mas bom) Ed Motta. Quando ele começa a cantar os “paraê bum pom yeahhhh din din dum” (é mais ou menos isso), claro que ali a voz tem essa única função. Ele já deu entrevistas dizendo que não vê tanto importância na letra, que essa é uma mania brasileira. Felizmente (sobre ser uma mania nacional), ele tem razão.

8 de março de 2006

De mim...

Não quero mais ler Álvaro de Campos (aquele amigo do Fernando Pessoa). Ele se parece muito comigo. E como disse o Paulo Francis sobre seus imitadores: "De mim, basta-me eu".