21 de dezembro de 2005

Disco do Noel Rosa e alguns termos batidos

Hoje estou com um CD novo. Do Noel Rosa (que morreu em 1937, ou algo assim). O melhor: todas as músicas são cantadas por ele. Os originais, em geral, são melhores do que as versões. Se essas versões forem do João Gilberto, da Aracy de Almeida ou do Chico Buarque, tudo bem. O problema é quando a Maria Bethânia, a Simone e o Ivan Lins decidem "homenagear" o poeta da Vila.

O disco é genial. São 14 músicas, entre elas as maravilhosas "100 Mil Réis", "Quem Dá Mais" e "Cordiais Saudações". E é impressionante como ele estava à frente do tempo (o termo é batido, mas neste caso faz todo o sentido). Noel, sendo muito irônico, não recai sobre uma ironia ingênua, comum dos "músicos irônicos da primeira metade do século 20". As letras são mordazes, de uma inteligência absurda, e a sua voz pequena é quase uma pré- bossa nova.

Claro que nem sempre Noel era "bem-humorado". As músicas feitas para seu grande amor, Céci, não deixa nada a dever aos bolerões que brotavam como uma peste no Brasil do meio do século passado. "Dama do Cabaré", "Último Desejo", "Ilustre Visita", etc. Céci foi um tema recorrente para o poeta. Mas estas músicas não estão no CD. Então, por alguns meses, ainda vou ouvir diariamente esse lado mais "leve" do compositor.

Por que pouca gente sabe que Noel existiu? Por que Carlos Gardel é mais famoso - entre os próprios brasileiros - do que ele? Por que, quando toca Feitiço na Vila, sempre tem alguém pra falar: "Ó, lá! A música da novela das 8!"? Tô com uma vontade de responder: "É que o brasileiro não tem memória". Mas acho que já abusei hoje dos termos batidos.