24 de dezembro de 2007

O jovem executivo do futebol

Pasquale Cipro Neto afirmou outro dia em seu programa semanal na rádio Cultura: “Vivemos um dos períodos de juventude mais careta da história”, e enfatizou: “Careta de doer”. Chico Buarque, no filme sobre Vinícius de Moraes, disse que não imaginava o poeta vivendo no mundo atual, pois ele era um “desvairado” e a sociedade está extremamente pragmática, e sentenciou: “Vivemos a vitória do consumismo”. Na semana passada Kaká foi eleito o melhor jogador do mundo pela Fifa. E comprovou, no campo futebolístico, as afirmações do professor e do compositor.
O status quo força as pessoas, de qualquer atividade, a serem pragmáticas. Sem perda de tempo, sem criatividade desnecessária, sem atitudes polêmicas. E é exatamente esta a figura do camisa 22 do Milan e o maior símbolo esportivo brasileiro deste way of life. Bom menino, evangélico, objetivo, ótima relação custo-benefício a seu empregador e fiel pagador de seus impostos. No mundo corporativo, seria definido como “jovem executivo, dinâmico e pró-ativo”, como as empresas tentam enquadrar (ou idiotizar) seus funcionários.
Enquanto isso, verdadeiros gênios do futebol, como Alex (do Fenerbahçe), Messi (Barcelona), Cristiano Ronaldo (Manchester) e Valdívia (Palmeiras) são colocados em segundo plano. Estes, certamente, não passariam em dinâmicas de grupo de empresas.

Arena multiuso?

Outra coisa irritante é a nova moda de usar o termo “arena multiuso”. O Atlético-PR diz que já tem e o Palmeiras promete construir a sua. Sendo claro: arena multiuso não passa de um estádio com lojinhas. É desnecessário esse nome tão moderno quanto imbecil. Enfiam essa linguagem rebuscada goela abaixo, e em poucos minutos o povo sai repetindo igual papagaio: “Também quero uma arena multiuso”. Estádio é estádio, como nos bons tempos em que futebol era futebol. Só espero que não adotem como oficial a terminologia “soccer”. Do jeito que as coisas estão, não é nada impossível.