12 de setembro de 2011

Noel compôs baixaria para taxista-cantor

Noel Rosa por Elifas Andreato
O sambista Noel Rosa costumava varar noites e noites em rodas boêmias no centro do Rio. No comecinho dos anos 1930, conheceu por lá um taxista (ou chofer, como se dizia à época) chamado Malhado, que também era metido a músico. Malhado gostava de cantar no estilo operístico, com letras rebuscadas, quase parnasianas, que muitas vezes não sabia o que queriam dizer.

Depois de muitas viagens com Malhado, tendo que suportar seus dós de peito, Noel resolveu pregar uma peça no chofer. Escreveu uma música para que Malhado pudesse mostrar seus dotes a duas moças lindas, filhas de um coronel de Vila Isabel. No dia marcado, e depois de algum ensaio, os dois se encontraram para a serenata. Noel disse que tocaria violão do outro lado da rua, para dar o destaque que a voz de Malhado merecia. Ao som das primeiras dedilhadas, Malhado soltou a voz, lendo num papel a letra escrita pelo companheiro: 
Saí da tua alcova com o prepúcio dolorido / Deixando seu clitóris gotejante / De volúpia emurchecido / Porém, o gonococos da paixão / Aumentou minha tensão...

O coronel, claro, não gostou nada da letra pornográfica dedicada a suas filhas. Surgiu na janela já de arma em punho. Malhado correu em disparada. Depois de algumas quadras, encontrou o Poeta da Vila. Esbaforido e assustadíssimo, exclamou: “Não entendi nada, o coronel saiu atirando”. E Noel, sem perder a pose: “Isso é pra você ver o que é a falta de sensibilidade dessa gente...”.

8 de setembro de 2011

Abaixo a guitarra elétrica


Quando Caetano Veloso e Gilberto Gil ouviram pela primeira vez o disco Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band, do Beatles, em 1967, ficaram estupefatos. Perceberam definitivamente que o rock era mais que mero iê-iê-iê. Que poderia ser uma música mais profunda. A dupla tratou de pôr guitarras elétricas nos arranjos de suas novas composições.
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Mas esse não era o sentimento de parte dos músicos brasileiros, que via na guitarra o símbolo da dominação cultural norte-americana. Chegou-se a organizar marchas contra a guitarra elétrica e pela valorização da tradicional música brasileira. Na foto, Jair Rodrigues, Elis Regina, Gilberto Gil e Edu Lobo encabeçam uma dessas marchas - Magro, do MPB4, é o de barba logo atrás.
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Gilberto Gil? Pois é. O baiano – que poucos depois subiria aos palcos do Festival da Record de 1967 ao lado dos Mutantes para defender Domingo no Parque – não soube dizer não a Elis Regina. Da janela de um prédio, Caetano Veloso e Nara Leão assistiam a tudo. Caetano disse: “Acho isso muito esquisito”. Nara respondeu: “Esquisito? Isso aí é um horror! Parece manifestação do Partido Integralista. É fascismo mesmo”.