22 de julho de 2010

João da Baiana precisou de senador para tocar pandeiro em paz

O samba é o estilo musical mais popular do País, mas no começo do século passado era caso de polícia. Os músicos poderiam ser levados para a delegacia simplesmente por estarem “armados” com um pandeiro ou com um violão. João da Baiana não foi exceção. Negro, morador de subúrbio e sambista, era comum que a polícia confiscasse seu instrumento musical. “Samba e pandeiro eram proibidos na década de 20. A polícia perseguia a gente. Eu ia tocar na festa da Penha e a polícia me tomava o instrumento”, disse décadas depois, já consagrado.

Ao mesmo tempo, parte da elite via qualidades no estilo musical dos morros cariocas. Entre os quais, o senador Pinheiro Machado, que costumava organizar rodas de samba em sua espaçosa casa no bairro de Laranjeiras. João da Baiana era sempre convidado. Um dia, porém, não apareceu. O político quis saber o motivo, e João confessou que a polícia havia tomado, mais uma vez, seu instrumento. Na mesma hora, Machado mandou fazer um novo numa loja da rua do Carioca. E ordenou ao dono da loja que colocasse uma dedicatória no pandeiro: “A minha admiração, João da Baiana – Senador Pinheiro Machado”.

A dedicatória do poderoso homem passou a valer como um escudo contra as investidas policiais. Deu certo. João da Baiana, considerado o introdutor do pandeiro no samba, teve paz para tocá-lo “até rasgar o couro”, como se diz. Depois, guardou como um amuleto. Neste, a polícia nunca tocou. Só João da Baiana.

No vídeo abaixo, João da Baiana está ao lado de outros dois sujeitos bons de música, executando mais uma de suas especialidades: tocar prato e faca.

Pixinguinha, Baden Powell e João da Baiana - Lamento

1 de julho de 2010

Saudade faz nascer clássico da música brasileira















 O jornalista Sérgio Bittencourt era famoso pelo estilo polêmico. Não poupava críticas ácidas sobre música popular em jornais e revistas. Tornou-se também um rosto conhecido ao atuar como jurado nos programas de Flávio Cavalcanti. Mas as palavras ficavam doces ao falar sobre a admiração que tinha pelo pai, Jacob do Bandolim, um dos maiores músicos de choro da história do País.
A morte de Jacob, em 1969, foi dura para o rapaz de 29 anos. Em sua homenagem compôs a comovente Naquela Mesa: Naquela mesa ele sentava sempre / E me dizia sempre o que é viver melhor / Naquela mesa ele contava histórias / Que hoje na memória eu guardo e sei de cor... Há quem diga que a canção foi escrita durante o velório do pai. A música ficaria famosa nas vozes de Elizeth Cardoso e Nelson Gonçalves e tornaria-se um clássico, quase obrigatória em repertórios boêmios Brasil afora.
Para Sérgio, era apenas a forma encontrada para relembrar o seu grande ídolo. E para revelar a tristeza de nunca mais ver a figura do pai: Naquela mesa está faltando ele / E a saudade dele está doendo em mim. Em 1978, um ano antes de morrer precocemente, o jornalista declarou: "Tenho certeza e assumo: não sou nada, porque, de fato, não preciso ser. Me basta ter a certeza inabalável de que nasci do amor, da loucura, da irrealidade e da lucidez de um gênio".
Ouça a música no vídeo abaixo.

Naquela Mesa, pela voz de Nelson Gonçalves