12 de maio de 2009

Um homem de moral

Numa sessão reservada à imprensa, assisti ao documentário Um Homem de Moral, de Ricardo Dias, sobre a vida e as canções de Paulo Vanzolini. É o melhor documentário / filme sobre um compositor desta década. E olha que houve sobre Cartola, Noel, Vinicius, Paulinho da Viola. Talvez eu faça a afirmação ainda pelo calor do acontecimento, por ser completamente apaixonado pela obra de Vanzolini. Mas o documentário é realmente bom. E emocionante.
O modo como o compositor explica suas canções, sem firulas, sem frescuras, sem exaltação ou modéstias à toa é muito bonito. Não foi contaminado por uma das maiores pragas do mundo moderno: o politicamente correto. Evidencia essa verve logo nas cenas iniciais: "O povo de cada um eu não gosto. Mas do povo em geral eu gosto muito" (como se pode ver no trailer abaixo).
Ele começa a repassar sobre a vida, o trabalho científico e, principalmente, os sambas. Entre uma canção e outra, cenas de São Paulo, tão retratadas pelo compositor. Ele desnuda a cidade não de uma forma romantizada, mas desnuda a fraqueza e a incoerência dos habitantes. Como em Ronda. Parece que a personagem quer fazer as pazes com o amado. Mas, na verdade, apenas pretende descarregar o pente no canalha: Porém, com perfeita paciência / Sigo a te buscar / Hei de encontrar / Bebendo com outras mulheres / Rolando um dadinho / Jogando bilhar / E neste dia, então / Vai dar na primeira edição / Cena de sangue num bar da avenida São João.
Tornou-se um hino de São Paulo. Motivo de orgulho para Vanzolini, certo? Nada disso. Ele considera o samba-canção fraco, piegas. Como explica: "Eu tenho muita dívida com São Paulo. É um absurdo como gostam de Ronda. Mas gostam. Até japonês com dor de corno a canta em karaokês".
Mas o melhor está por vir. Parte do documentário foi gravado durante a feitura de Acerto de Contas, um projeto com a gravação de seus sambas. Cenas de importantes artistas não faltam: Paulinho da Viola, João Macacão, Inezita Barroso, Virgínia Rosa, Martinho da Vila e Chico Buarque, numa definitiva gravação de Praça Clóvis: Na Praça Clóvis minha carteira batida / Tinha 25 cruzeiros e o seu retrato...
Há ainda uma bela participação de Adoniran Barbosa. Em gravação dos anos 1970, ao lado dos Demônios da Garoa, fala de maneira carinhosa sobre o amigo. “Nosso samba é parecido, entende? Só que o Vanzolini é muito mais inteligente que eu. Meus temas são mais bobos, os dele, mais intelectuais. Ele é um cara estudado”. E finaliza: “Ele é um zoológico” (querendo dizer “zoólogo”).
No fim, gente do povo canta Volta por Cima. Aí surge Vanzolini para proferir a frase síntese da sua visão sobre a vida: "Todo mundo presta atenção no verso volta por cima. Mas tem outra coisa que para mim é mais importante: reconhece a queda". Nada mais é necessário. Apenas subir os letreiros.
A previsão de estreia é 29 de maio nos cinemas de São Paulo e Rio de Janeiro.

Trailer de Um Homem de Moral