25 de março de 2008

Cadê a vaia?

Hoje o UOL noticiou as dificuldades que o grupo de teatro Os Satyros passou com sua apresentação da peça Vestido de Noiva em Curitiba. O espetáculo é multimídia e mistura artes cênicas com projeções em vídeo. Pois bem, a apresentação de estréia teve apenas meia-hora, pois houve problemas com a projeção. O grupo ficou em pânico, a peça foi adiada e a experiente atriz Norma Bengell saiu do palco aos prantos. E o público vaiou, vaiou e vaiou. Sabe por qual motivo, meu fiel leitor? Porque queriam o dinheiro de volta. O fato é revoltante por dois motivos: por associar uma expressão cultural a mais mesquinha relação de consumo e por só haver vaia em espetáculos se for por dinheiro. Qual foi a última vez que você ouviu vaia em teatro, cinema, shows musicais, debates, etc, afinal? A vaia sincera, infelizmente, é um artigo em extinção.

Há diversas peças de teatro chatas. E, pior: conceitualmente patéticas, seja por agressividade boba ou por defender pontos indefensáveis. Shows de música, então, nem se fala. Debate de jornalismo também costuma ser uma tristeza. Sempre tem um pra falar besteira em cima de besteira. E o público fica lá, com cara de sonso, e o aplauso soa tão natural quanto respirar. Falta posicionamento, falta protesto, falta inquietude. Falta fugir do lugar-comum, esse buraco negro que suga tudo e todos impiedosamente.

Como disse o diretor teatral Gerald Thomas (é, aquele chato): “É melhor uma vaia emocionada do que aplausos insossos”. Entretanto, também não é defensável a vaia pela vaia. Algumas são tão estúpidas quanto aplausos sem graça, como a famosa que ocorreu contra a música Sabiá, em 1968, tendo como alvo Chico Buarque, Tom Jobim e as irmãs Cynara e Cybele. Cego pela forte e politizada música Pra Não Dizer que Não Falei de Flores, de Geraldo Vandré, o público no Maracanãzinho não percebeu que ali estava a nova canção do exílio. Enfim, a história mostrou que tanto Geraldo Vandré quanto Tom e Chico estavam certos. E que aquela vaia foi burra.

Mas, desde então, se tornou exceção. Lembro-me a sofrida pelo Lobão no Rock in Rio de 1985, e a do Carlinhos Brown numa outra edição do festival. De resto, com poucas exceções, se aceita tudo. Desde que não tenha grana no meio, claro.

Só o futebol salva

O futebol é a última expressão culturalmente genuína do Brasil. Lá, o público não está presente para resgatar um movimento histórico importante e nem para homenagear o modo de ser do brasileiro. É verdadeiro, é pulsante, é espontâneo. E a vaia ocorre tão naturalmente quanto o aplauso, a cada segundo. O humor muda conforme o que os torcedores vêem. Um jogador errou uma jogada mas mostrou raça? Quase todos aplaudem, alguns vaiam o perna-de-pau. Um atacante habilidoso dribla metade do time adversário mas chuta displicentemente? Os xingamentos soam alto no estádio. É um show com preço considerável, que dura 90 minutos e que, ultimamente, tem apresentações sofríveis. Mas é bem difícil ouvir: “Nossa, paguei R$ 20 e vi um joguinho. Quero meu dinheiro de volta!”. Essa frase é rara porque os espectadores lotam os estádios por emoção, e não por status. A mesma coisa que esse público curitibano devia ter feito.

Um comentário:

Tiago Cardoso disse...

Eu, sinceramente, acho que vaia só quem merece é politico.

Não sei pq, mas não consigo vaiar nenhuma apresentação artistica - por pior q ela seja.

Acho q só o fato da pessoa se colocar lá na frente pra se pôr a prova, já tem q ser levado em conta. O descredito pela mediucridade pode perfeitamente ficar na consciencia do cidadão.

Mas vaiar por causa de dinheiro é sacanagem!!!!