25 de setembro de 2007

Surpreendentemente comum

Quando soube, de manhã, quem seria o entrevistado do programa Roda Viva (da Cultura), fiquei empolgado. Era Mano Brown, líder de um grupo que é uma ilha de autenticidade entre o marasmo artístico. Genial, corajoso, diferenciado em diversos aspectos. Tinha certeza de que seria uma noite histórica. Pois bem, assisti ao programa. E me decepcionei.

A decepção maior foi com os entrevistadores. Perguntas genéricas e preguiçosas. Ecoavam de duas formas: ou demonstravam mal conhecer o entrevistado, com perguntas vazias como “qual é a solução para a violência?”, ou queriam agradar o rapper. Ao ponto de Mano Brown mostrar surpresa: “Já assisti várias vezes ao programa e sempre ‘batiam’ forte no entrevistado. Hoje estão pegando muito leve”.

Mas o entrevistado também não estava bem. Não se mostrava nem o radical de antigamente e tampouco tinha uma atitude serena. Soou comum. E, ao se tratar de Mano Brown, soar comum é bem surpreendente.

O que salvou a entrevista – por mandar pra muito longe o lugar-comum- foi uma resposta sobre como o rapper lida com seus filhos. Ele estava falando que não conheceu o pai. O jornalista Paulo Markun, mediador do programa, então perguntou: “Você tenta compensar essa falta sendo um pai presente pros seus filhos, né?! Você é um pai presente?”. Até por estímulo, a tendência era receber uma resposta positiva. Com olhar e voz firmes, Brown respondeu: “Não, sou ausente”. Houve dois segundos de silêncio no estúdio.
Excetuando essa resposta, infelizmente, foi uma noite comum. Inacreditavelmente comum.

6 comentários:

Anônimo disse...

Ola Amigos,
Primeiro quero explanar que conheco o trabalho dos Racionais desde 1997, e conheco o Brown pessoalmente pessoa maravilhosa.

Pontos da Entrevista?

Primeiro ele nao estava a vontade sobre as cameras mesmo, pude perceber isto.
ele nao fez questao de mudar em nada o seu dia dia a forma de falar de se expressar, e mostrar quem é o Paulo e o Mano Brown.

Terceira parte.
Quando ele fala sobre os comerciantes, bacana isto mas ao mesmo tempo Perigoso.
Porque e Muito legal para quem esta na Favela.
Mas os comerciantes ou os amigos do comerciantes, visitam outro bairros para poder deixar o comercio dele tranaquilo, apologia ao Crime sem duvida.
Melhor proteger o morado da favela e que os outros moradores de outros lugares que se explodam.

Quarta Parte.
Ele estava em um programa que ja entrevistou o Vice presidentes do EUA, e ja entrevistou o presidente do Brasil.
Devia ter uma pouco mais de postura, ele estava a frente pessoas que trabalham diariamente, para poder prover um pouco mais de cultura para populacao brasileira.

O Entrevistador Carlos Lombardi. é um Mentecapto um Paquiderme, so sabe criticar e falar de crime se o crime acabar ele morre de FOME.

Existem varios topicos da entrevista que vou comentar durante o dia de hoje.

A Entrevistadora a Psicanalista, esava falando mais como uma FAN do que como uma profissional.

Todos gostariam de criticar o Brown, mas todos estavam com medo.

E na Cultura Brasileira onde e medo nao existe o Respeito.

Abracos

Daniel Souza
garfado@gmail.com

Gabriel Luccas disse...

Parecia existir medo dos dois lados. Dos entrevistadores em desagradar o Brown e dele em dar alguma bola fora. "É assim que se fala isso, né?". Por isso o clima amistoso. O que estragou a entrevista.

Anônimo disse...

Bruno, receba um salve de seu truta Cotrim.
Diferente de MV Bil, quando este esteve no mesmo roda viva, Brown não conseguiu articular os pensamentos, nem os jornalistas conseguiram fazer perguntas interessantes. Nenhum teve a capacidade de perguntar sobre o incidente na Virada Cultural. Estariam estes orientados para não tocar nesse assunto? Decepção. Além de tudo, na minha opinião, acho que Mano Brown saiu com sua imagem borrada quanto pensador, contestador.

Anônimo disse...

VCS ...
....estão confundindo as bolas, ninguém está colocando a prova o mérito do som dos Racionais, é indiscutível que o grupo é um dos melhores da MPB e com certeza o melhor do Hip Hop. Não é só minha opinião, sou jornalista cultural e já ouvi da boca de inúmeros colegas "Sobrevivendo no inferno" é um dos melhores discos que a música brasileira já produziu !! Duas coisas devem ser separadas, a obra e o cara. A entrevista do Brown foi mal sim, ele se demonstrou despreparado para assumir o que o povo acha que ele é, ou seja, um representante da periferia .. por outro lado, acho que foi proposital.... acredito que ele esteja cansado e quer finalmente viver daquilo que se propos fazer na vida, ou seja , música. O cara é um artista, muitos que abraçaram causas no passado, Chico, Caetano etc... tomaram o mesmo rumo ... música, grana e paz. Pô ... qual o problema do Brown ter chegado a essa conclusão ! Ele não quer estudar .. beleza ... ele não quer se aprofundar em questões sociais ..beleza. Ele não é obrigado a ser um Bono Vox ... é brochante ... mas isso não tira o mérito do cara ser um letrista de primeira linha.
O fato de não querer abraçar nada não significa que o que ele fala nas canções seja mentira .. ao contrário ... artista de verdade só vende a sua verdade .. e é por isso que a música produzida pelos Racionais faz milhares ficarem boquiabertos.
Considero que a entrevista teve seus momentos de lúcidez .. mas é fato, ele estava com um pouco do medo, em cima do muro demais, com problemas para verbalizar o que pensava .. e finalmente deixou claro que o pregava no passado hoje não faz tanta importância, ele tb quer Nike no pé e ter uma vida boa. Afinal....a vida passa .....
Talvez o público tivesse uma idéia errada a respeito dele ... talvez por ser assim evitava a mídia ... enfim esse Roda viva serviu para desmistificar a figura do poderoso mano Brown .. e mais .. acho que realmente era isso que ele queria, o peso nas costas devia estar alto !!!

Bruno Hoffmann disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Bruno Hoffmann disse...

X:

Concordo com você praticamente de ponta-a-ponta. Tenho certeza ter sido proposital o "não sou esse líder. Sou um artista e, como artista, quero pensar sozinho. Tirem das minhas costas essa responsabilidade". E está certíssimo.

Mas ele me pareceu estar numa fase intermediária, como coloquei no texto. Não se mostrou nem radical, como fora, e nem sereno, com a maturidade de quem já percebeu que este caminho de ter a "voz de quem não tem voz" não é o ideal prum artista. Parecia perdido, simples, comum. Por isso a sensação de não ter sido um dia histórico.

Você, como jornalista, deve ter percebido também o papel ridículo que os entrevistadores fizeram. Ou pareciam querer agradá-lo de qualquer forma ou caiam em perguntas genéricas, tendenciosas e desinformadas. Havia muita coisa relevante a ser perguntada a Mano Brown. Não foi falada quase nenhuma, como se ele fosse um desconhecido. Como se, duas horas antes da entrevista, os jornalistas tivessem recebido um release sobre "quem é Mano Brown". Foi tacanho por ter sido uma chance rara desperdiçada.

Obs: coloco "Homem na Estrada" entre as 15 melhores músicas brasileiras de todos os tempos. Ele é um artista no mesmo nível dos grandes (Chico, Cartola, Caetano, Gilberto Gil, Noel) tanto em talento como em representativicade.