20 de setembro de 2007

Os 10 mais (continuação)

5º - Nelson Cavaquinho



Quando aquela voz característica começa a ecoar, é impossível não saber de quem se trata. O canto rascante, rouco e amargurado é o retrato fiel da obra de Nelson Cavaquinho. Dadas a desilusões amorosas e desesperança na vida, suas canções são sem paralelo na história da música popular. De uma simplicidade musical – e de vida – impressionante. Nelson era craque da boêmia. Do desapego material. Do medo e da alegria. Dos sentimentos nobres e baixos. Para ser sincero, é difícil falar sobre o compositor. Possivelmente é o personagem mais complexo da nossa música. Há muito de desconhecido no subterrâneo daquele olhar profundo e carismático.

Medo da velhice e, conseqüentemente, da morte, é constante em suas músicas. Os versos que registram essa temática são vastos: “Quando o tempo avisar/ Que eu não posso mais cantar/ Sei que vou sentir saudade/ Ao lado do meu violão/ Da minha mocidade” (Folhas Secas); "Sei que estou/ No último degrau da vida, meu amor/ Já estou envelhecido, acabado/ Por isso muito eu tenho chorado" (Degraus da Vida); "Sempre só/ E a vida vai seguindo assim/ Não tenho quem tem dó de mim/ Estou chegando ao fim" (Luz Negra); "O meu pecado foi querer na minha mocidade/ Amar muitas mulheres/ O tempo já passou/ Eu sinto saudade" (O Meu Pecado).

Teve seu momento de criação mais intensa quando se juntou a Guilherme de Brito. Um tipo totalmente contrário a Nelson. Casado com uma única mulher a vida inteira, fiel, pouco dado a boêmias. Desta parceria inusitada, nasceu o verso mais bonito da história musical, feita pelo Guilherme. A famosa “Tire seu sorriso do caminho que quero passar com a minha dor”, de A Flor e o Espinho.

Mas há um outro verso, impressionantemente irônico, triste e exato, que sintetiza sua vida: “Feliz daquele que sabe sofrer”, da música Rugas. Por estas linhas, podemos suspeitar que Nelson, afinal, era uma pessoa feliz. À sua maneira.

4 comentários:

Liginha disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Liginha disse...

Bruno!!!
Alguns comentários tentando ser imparcial:

1 - A descrição, o modo como vc vê Nelson Cavaquinho é - na minha opinião, claro (rs) - muito verdadeira!!

2 - Eu gosto tanto, mas tanto de suas letras e melodias, que volta e meia fico triste de tanto ouvir canções com temas parecidos (e melancólicos) de uma só vez!

3 - 'Tentando ser imparcial' pq estou numa fase Nelson, daquelas que a gente ouve todos os dias o mesmo CD várias vezes: seu lugar nessa lista, pra mim, é segundo (vc não falou de Tom Jobim ainda, né?).

4 - Parabéns pelo post. Ficou excelente. De coração (e razão). Deu até emoção ao ler, Bru (olha que não sou de elogiar assim, hein? rs, mas esse vc merece!).

Bjosss, Li.

Anônimo disse...

Lindo!
Aliás, acho que vc traduziu muito do que eu sempre penso e quis escrever sobre Nelson, especialmente, com relação ao seu temor à morte.
E sempre regado por um ar dramático, que nos faz sempre lembrar o quanto é penoso o viver.

Keka disse...

Bem interessante! Belos textos!
Você podia colaborar no meu documentário, hein?
Que acha?
bj,
Erika