6 de outubro de 2008

Chico versus 1968

Radicais de direita e de esquerda que encheram a paciência de Chico Buarque em 1968.

Bom-mocismo às favas

Garotas de classe média – e de cabelos impecáveis – lotaram o auditório do Teatro Princesa Isabel, no Rio de Janeiro. Afinal, era a estréia da peça Roda Viva, escrita pelo “genro ideal” de seus pais, Chico Buarque. As meninas suspiravam ao imaginar o que o “cantor dos olhos de ardósia” e símbolo do bom-mocismo havia criado.

Quando as cortinas se abriram, entretanto, todas ficaram espantadas. A peça era extremamente provocativa, quase violenta. Tratava-se uma encenação revolucionária comandada pelo diretor Zé Celso Martinez Côrrea. O texto de Chico também não ficava atrás: era uma ironia deslavada ao mundo do show business, ao qual ele fazia parte. Muitos saíram antes de terminar, ofendidos. O ator Antônio Pedro, que fazia o papel do Anjo da Guarda, foi ameaçado por um espectador ao começar mais uma provocação: “Olha aqui, ó, Anjo, se você não parar vou te dar uma porrada”.

Mas porrada quem deu mesmo foram integrantes do Comando de Caça aos Comunistas, um grupo paramilitar de extrema direita, que espancaram integrantes da peça após uma apresentação em São Paulo e seqüestraram dois atores em Porto Alegre.

Festivaia

Tom Jobim suportou exatos 23 minutos de vaias durante a apresentação de Sabiá, na fase eliminatória do 3° Festival Internacional da Canção. O público de 20 mil pessoas, que lotava o Maracanãzinho, considerava a canção alienada. Quase todos torciam para Não Dizer que Não Falei de Flores, a politizada canção de Geraldo Vandré. O co-autor de Sabiá, Chico Buarque, escapou dos apupos por estar em turnê pela Europa.

Na finalíssima, entretanto, teve que encarar a multidão. E mais vaias, que calaram as intérpretes Cynara e Cybele. Os dois, que também estavam no palco, ficaram visivelmente constrangidos. No final da apresentação, Geraldo Vandré tomou as dores dos adversários e, ao microfone, proferiu uma das suas últimas frases em público. “A vida não se resume a festivais”, bradou à platéia.

Contrariando a preferência popular, Sabiá foi a vencedora. E logo seria adotada como uma espécie de hino da saudade dos exilados políticos: Vou voltar / Sei que ainda vou voltar / Para meu lugar.

2 comentários:

Anônimo disse...

Vaiar Sabiá é dose!! A politização dos estudantes fazia com que perdessem cada preciosidade...

Anônimo disse...

Concordo, mas prefiro a politização (sincera), que é rara nos dias de hoje.