Em meados da década
de 1970 não havia uma embaixada brasileira em Angola. Mas Martinho
da Vila era chamado de “embaixador do Brasil” no país africano.
O compositor de Vila Isabel – intrinsecamente ligado à causa negra
– começou a fazer excursões do lado de lá do oceano Atlântico,
e cada vez voltava mais encantado com a riqueza e a diversidade
cultural que via. Em 1980, enfim, idealizou um grande projeto de
intercâmbio cultural entre os dois países: o Projeto Kalunga.
A organização ficou a cargo de Martinho e do produtor Fernando Faro. Durante todo o começo da década artistas brasileiros de primeira linhagem foram mostrar o samba à terra do semba: Chico Buarque, Dorival Caymmi, Clara Nunes, Miúcha, Djavan, Dona Ivone Lara, João Nogueira e outros. “O que mais ficou marcado na minha memória foi a participação de Dorival Caymmi sozinho com seu violão, e o povo todo cantando a letra inteira com ele”, afirma Martinho.
Três anos mais tarde, Martinho inverteu a direção. Elaborou o Canto Livre de Angola, que trouxe ao Rio, São Paulo e Salvador a então desconhecida música angola, com a participação de Elias Dia Kimuezo, um dos mais importantes nomes da música do país. O projeto rendeu o elepê Canto Livre de Angola.
De ambos os projetos, surgiram novas canções, como Morena de Angola, de Chico Buarque. A letra mais emblemática criada a partir do intercâmbio cultural é Lá de Angola, de João Nogueira, que encerra a discussão entre cariocas e baianos sobre o surgimento do samba: É preciso navegar / Pra poder se esclarecer / Do lado de lá do mar / É preciso ver pra crer (...) Samba vem lá de Angola / Não vem da Bahia, não / Samba vem lá de Angola / Não vem lá do Rio, não.
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