Quando soube, de manhã, quem seria o entrevistado do programa Roda Viva (da Cultura), fiquei empolgado. Era Mano Brown, líder de um grupo que é uma ilha de autenticidade entre o marasmo artístico. Genial, corajoso, diferenciado em diversos aspectos. Tinha certeza de que seria uma noite histórica. Pois bem, assisti ao programa. E me decepcionei. A decepção maior foi com os entrevistadores. Perguntas genéricas e preguiçosas. Ecoavam de duas formas: ou demonstravam mal conhecer o entrevistado, com perguntas vazias como “qual é a solução para a violência?”, ou queriam agradar o rapper. Ao ponto de Mano Brown mostrar surpresa: “Já assisti várias vezes ao programa e sempre ‘batiam’ forte no entrevistado. Hoje estão pegando muito leve”.
Mas o entrevistado também não estava bem. Não se mostrava nem o radical de antigamente e tampouco tinha uma atitude serena. Soou comum. E, ao se tratar de Mano Brown, soar comum é bem surpreendente.
O que salvou a entrevista – por mandar pra muito longe o lugar-comum- foi uma resposta sobre como o rapper lida com seus filhos. Ele estava falando que não conheceu o pai. O jornalista Paulo Markun, mediador do programa, então perguntou: “Você tenta compensar essa falta sendo um pai presente pros seus filhos, né?! Você é um pai presente?”. Até por estímulo, a tendência era receber uma resposta positiva. Com olhar e voz firmes, Brown respondeu: “Não, sou ausente”. Houve dois segundos de silêncio no estúdio.
O que salvou a entrevista – por mandar pra muito longe o lugar-comum- foi uma resposta sobre como o rapper lida com seus filhos. Ele estava falando que não conheceu o pai. O jornalista Paulo Markun, mediador do programa, então perguntou: “Você tenta compensar essa falta sendo um pai presente pros seus filhos, né?! Você é um pai presente?”. Até por estímulo, a tendência era receber uma resposta positiva. Com olhar e voz firmes, Brown respondeu: “Não, sou ausente”. Houve dois segundos de silêncio no estúdio.
Excetuando essa resposta, infelizmente, foi uma noite comum. Inacreditavelmente comum.

Quando aquela voz característica começa a ecoar, é impossível não saber de quem se trata. O canto rascante, rouco e amargurado é o retrato fiel da obra de Nelson Cavaquinho. Dadas a desilusões amorosas e desesperança na vida, suas canções são sem paralelo na história da música popular. De uma simplicidade musical – e de vida – impressionante. Nelson era craque da boêmia. Do desapego material. Do medo e da alegria. Dos sentimentos nobres e baixos. Para ser sincero, é difícil falar sobre o compositor. Possivelmente é o personagem mais complexo da nossa música. Há muito de desconhecido no subterrâneo daquele olhar profundo e carismático.